terça-feira, 12 de março de 2013

A Vida de Rosária


Vivia sozinha, não era casada e nem filhos tinha. A casa era pequena, era de madeira, era dela e ali estava ela. Esta era a vida que Rosária tinha pedido a si mesma: pouco fazer, olhar para o céu olhar, não muito pensar e deveras significar. Era daquelas despreocupadas. “Ê, menina, sentada na varanda tais horas da manhã? Ê, vida boa.” Mas Rosária Mercedes não se preocupava, quiçá prestava atenção, mas pouco; continuava a descascar sua laranja, calmamente. Chupava a fruta, comia a fibra, colocava a casca pra secar no varal – útil ao chá e ao chimarrão posteriormente – que poucas roupas prendia, e sentava-se novamente na cadeira que balançava. Sobretudo quando os dias se lhe apresentavam muito bonitos, aí sim é que Rosária nem o serviço de casa fazia. Só amava. Nem a cama arrumava. De tanto amar a vida e tão sem se preocupar, as vizinhas estavam sempre a se incomodar. “É uma baita duma preguiçosa, isso sim!” E é assim que era Rosária Mercedes de Jesus: vagarosamente pra quem via de fora e esta era sua vida, sem pressa nem tempo.

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