quinta-feira, 21 de março de 2013

Ideias de Rosária (texto 2)


Houve um dia em que, depois do seu café da manhã configurado por pão, mortadela e café coado, Rosária teve uma ideia que lhe pareceu sumariamente genial: espalhar livros ao longo da Rua das Camélias, em que ela morava, para que anualmente passassem a comemorar o dia da leitura ali. Um único dia de leitura e regozijo queria ela, embora não fosse dada à leitura. “Que ridículo, Rosária!”, disseram. “A mulher pirou de vez!”, e ainda “Ela que vá caçar o que fazer, preguiçosa!” Rosária Mercedes não se preocupou, à tarde foi que pensou consigo que uma relação que a deixou deveras confortada: uma ideia nova era como um lago desconhecido: ninguém se jogava logo de cara, entrava-se aos poucos, deixando a água visitar o corpo, instalar-se, até que todos estavam totalmente encharcados com a água do novo lago. O medo do não convencional amedrontava quase o total da população – o é desde sempre. Sabia que assim também seria com sua ideia: soaria receoso, mas aos poucos poder-se-ia instalar o contexto de leitura que Rosária queria. Todavia demoraria e logo não repercutiu, mas Rosária Mercedes não tinha pressa nem desdém; foi descascar uma laranja.

Um comentário:

  1. E então me identifiquei com Rosária,esse gosto pelo nao convencial para mudar e tentar fazer a vida valer mais a pena!


    www.amantesdiamantes.blogspot.com

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