terça-feira, 12 de junho de 2012

Parábola da arrogância

Em verdade vos digo: aquele que possuir o discurso em concordância com seu pensamento; aquele que usar suas dracmas para o que almejar; aquele que gozar de sua própria criticidade para estabelecer o que é joio e o que é trigo; aquele adepto da desconstrução que alega não ser terra boa; aquele que asseverar que não se atira a primeira pedra, tampouco a segunda e jamais a terceira porque de pedras se usufrui maneiras mais concretas que atira-las nas faces medíocres; aquele que compreender que o cuspe escarrado só ocorre porque da boca que o projeta não emana algo de melhor qualidade que cuspidas rumadas aos pés alheios; aquele que assimilar em essência que verdade só é verdade sendo a verdade do sujeito em integridade e usufruto; aquele que reconhecer Judas como simplesmente um homem plural; aquele que realmente for filho de Deus e fizer uso disso dentro de atribuições racionalizadas e aplicadas; aquele que se chocar ao perceber que a cegueira dos Joãos, sendo simbólica, é tão logo muito mais árdua de curar será o exímio arrogante da sociedade. Pois tendo chegado Jacob, seguido de Pedro e junto de Marcos, adentraram a sinagoga de encontro ao Messias e assim que se achegaram, disse-lhes o saudoso filho de Deus: – que honra tenho por receber tão ilustre visita? E os visitantes, tendo feito cara de desdém perante o léxico bem-articulado de Jesus, responderam-lhe:
– Viemos transmitir tamanha atrocidade que realiza uma mulher: Maria Madalena, Messias, está a prostituir-se pelas ruas de Jerusalém qual a pior das pecadoras! E Jesus, tendo-lhes apresentado sua face em notoriamente projetada em natureza morta, logo em catarse mudara repentina e ironicamente sua expressão dando ênfase às sobrancelhas que quase tocavam o céu, respondeu-lhes em maiêutica refinada seguida de pergunta: – sendo o corpo de Maria Madalena inteiramente dela e de uso intransferível – neste momento do pensamento quase deu-se aos risos por pensar sarcasticamente “exceto à noite” mas prosseguiu – não será coerente concluirmos que faz, Maria Madalena, de fato, o que bem lhe for desejoso com o próprio corpo?
Em verdade completo-lhes: aquele que possuir identidade, existir numa fiel – subjetiva – aliança entre discurso, espírito e obra será tido como arrogante. Ao bom uso da ironia, do sarcasmo, do sorriso bem-pensado e do caminho analisado, será acoplada como condescendente a arte da arrogância. Nada mais arrogantemente puro que ser sincero. Porque de tudo que não sabemos ser e compreender, apenas nos cabe pobremente julgar; configurando-se-lhe o apontamento da arrogância alheia, visto que não lhe exista, o fundamento intrínseco do fracasso daquele que o profere. Palavras de um senhor.

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