A dicotomia dos interesses parecia deixar o menino sempre a movimentar sua pupila para um lado e para o oposto, assim como fazia sua cabeça nos momentos de não solução. Embora satisfeito – pelo interesse alheio apresentado. Enquanto pensava cuidadosamente nas suas sete irmãs e alguns irmãos, acerca de situações corriqueiras, misturara-se sua linha do pensamento a uma outra esfera de raciocínio: as pessoas adoravam os dizeres dele e isso o deixava reflexivo. Reflexivo porque, então, o complemento era difuso. Deveras difuso: alegavam amar as palavras que saiam de seu coração. O menino falava de amor mas não se confortava com o fato de ilustrarem seu discurso literário indissociavelmente de sua existência emocional. O sentido que causavam tais palavras não modificava uma grande verdade individualmente convencionada: em grande parte, eram apenas palavras. O acontecimento era pensado, racional, não amava e nem era amado. Só versava. Suas irmãs um tanto o compreendiam, talvez pela observância por uma lente próxima promovida pela intimidade e liberdade de acesso sem censura ao que ele expunha. Mas não queria a junção de seus versos com seu coração que, mesmo piamente de uma atmosfera humana e bem-humanizada, fazia por bombear sangue para o seu organismo – e nisso resumia-se toda a importância de tal coração. Para ele era bastante claro: falava tanto de amor por ser algo que ele essencialmente não sentia.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Elias sem solidão
----- Deste amor que se
assemelha à esquadria, pretendo eternamente fazer-nos em em verdades, às quais
guardo-te como no alto dessa montanha, intacta aos falsários que pudendo te
quiseram, mas, só eu a tenho – disse em tom de trem ameno.
Elias fora chagásico, em uma época
singular, na qual alimentavam-se olhares e sofria o coração. Alto, de
expandidas medidas e sentimento puro – deixava-se transparecer ainda mais agora
em pico –, cujo faz pospor até o momento. Olhos de carvão refletindo o serviço que
se propôs a realizar com grande carinho – se fora desse quadro quase
condicional não sabia Elias caber em que quer que seja diferente –, duas
jabuticabas a avistar Benícia na turbulência de um dia setembrino, em meio a
bocas remoendo almoço comemorativo quando soube precatar e os pães serviram-lhe
de pretexto ao futuro: história em que encontrava-se agora em tamanha altitude.
Não desdenhava a presente ideia de manter-se ali e assim por muito. Cabelos
pretos e corpo forte lembravam um antigo filme que certa vez vira a moça. A
pele colorida pelo sol fazia de Elias o mais desejado inconfesso. Com dissabor
às estripulias de mulher, jamais retrucara qualquer olhar a alguma figura
feminina que não fosse Benícia – ainda no passado de algo que esteja a ser
tratado agora. Impossível era ter erro, inacreditável, diziam, não fosse
perfeito.
----- Só a ti, serei e estarei
eternamente – desenhando verbalmente o que não é preciso citar. Há seis meses
experimentava a mais intensa e sublime sensação que passara por sua mente nem
em sonho ou nos, atualmente, longos dias de carvoeiro.
Sobre a mesa postada a flor do dia,
havia Elias em casa chegado. Fitava Benícia como se primeira vez fosse,
maravilhando-se igualmente o exímio apaixonado. Do que não se podia compendiar,
expressava-se, Elias, das mais variadas formas não planejadas, mostrando aos
campos longínquos ou lençóis e travesseiros que, sobretudo, era ela sua
inalterável inspiração. De simples passividade, grande e útil, a compassividade
do ser de mãos vistosas com dedos grossos vinha sempre a crescer, tendo em tudo
isso seu combustível que mesmo as fumaças libertas viravam flores por Elias.
Drapejava as roupas ali, quase em êxtase novamente estava em companhia dela.
----- Posso dizer-me em langor, certa
de que nunca cessarás me surpreender. Em tão alto momento, aqui e fora, mal sei
murmurar que me sinto tão feliz e nem se aproxima isso a quando estou na
botoeira que tanto me afeiçoa. Amo-te, Elias, do mais simétrico amor, o mesmo
descrito por palavras suas em momento anterior.
Pois, sem ensaio, bem
conseguia condensar-se com o que vinha de Elias. Suas louras madeixas
esvoaçavam-se aos movimentos que o vento dançava. Em frente ao homem,
enlaçava-se apoiando a cabeça em seu ombro, seus olhos insinuavam conspiração
em fazer combinar com os dele.
----- Somos a
planta nascida da matéria destinada a ser cinza, dizia ela, tecendo entre eles
o princípio de fazer-se um palavrão dito qualquer que não beirasse carinho
espontâneo e vivo entre eles. Dona de casa, fazia o melhor esperando com
agulha, linho e outros o momento de Benício estar em casa. O olhar lançado há
meio ano fora unitivo. Era rosada, contrariando os olhos e aparentando o corpo
e tudo além ser tramado para o resultado que naturalmente era. O
Quarto-de-milha à espera fazia mensão de contagiar-se com o que via, imaginava
a moça. Fosse o bicho um coleante, ao invés de tirá-los ao paraíso viria a
participar dele, integrar-se à beleza do saudoso par.
Seus dias na vila eram assim, nada havia
de mais completo. Em harmonia e bondade, Benícia e Elias subiam além. O grisu
exalado antes do banho por Elias dissipava-se sob a água quente e na inocência
vinha Benícia, compartilhando cada gesto e fazendo desse simples ato um
espetáculo musical.
----- Logo adiante me vejo em esbórnia
de corpo todo se tocado por você qualquer tempo a mais, decorria-se Elias ao que
nada recordava um discurseiro. Utilizar-se de amáveis dizeres envoltava-a em
lindo manto amoroso.
A jovialidade de ambos elaborada com
suas vivacidades não se estragou mesmo sendo dada a resposta de quem
cuidadosamente analisou e havia aprendido para tal. Nada empírico, sem estudo
de ciência. Todavia, com sabedoria de gerações, o tão estimado médico de
formação tão autossuficiente lançou as palavras silenciadas na memória de
Benícia.
----- Digo hoje tal e qual, com total desprendimento: amo-te, Elias, e com
você estarei o restante de meu viver.
Apresentava-se em
segredo, composta de amor e zelo, a alma amante em pura mocidade, com
incertezas do posterior, mas acalmada pelo amor recebido, carregando a terrível
enfermidade percebida.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
O meio
Identifico-me de quando em quando em confusão sobre este
tal de meio. Posso afirmar que não sei se se trata de uma coisa boa,
relativamente, ou ruim. Ou as duas, creio ser possível. O caso é que gostaria
de me sentir finalizado nesse pensamento porque ficar em cima do muro é ficar
no meio, que pode ser centro positivamente evidenciado ou esquecimento – pela
obviedade – e já nem tenho ideia para classificar: o que é, afinal, onde estou?
Se for pra engolir o comprimido, preciso de meio copo de água. O mesmo que
quando estou com sede não faz saciá-la. Na necessidade de livrar-me de
extremismos, o que quero é um meio termo. Com poucas nuvens no céu, complico
para avaliar se está meio ensolarado ou meio nublado, chego até a ficar meio
feliz por ver duas opções – e meio triste por não saber qual escolher. Entretanto,
não cesso refletir sobre isso. Mesmo dando um passo a cada meio ano, ou meio
passo em um trimestre. Não desconsidero, inclusive, a hipótese de uma dúvida
sobre mim: é curiosidade gramatical de posicionamento ou um daltonismo de
extremista que não me permite caber nas condições do meio? Que meio é esse?
Nenhuma das opções afinal, pois já fico meio irritado só de pensar em dialogar
com outro cunho e fugir da minha questão. Regionalmente me satisfaço quando sei
que moro no oeste, mas saber que há quem more no meio oeste me dá até calafrio
discursivo. Será minha atenção nisso meio boba ou é bobagem desse meio em que
estou? Continuo na mesma – recuso-me a pronunciar a outra palavra novamente.
Agora, depois de refletir sobre o assunto, estou ficando meio conformado. Vejo
grande auxílio no meio que o meio utiliza pra me tirar de lá e de cá e
deixar-me ali: no meio. Bateu-me uma alegria espiritualmente racional: a
realidade é que descobri a eficácia ponderada do meio. É muito pessoal. É o que
tenho a dizer: usarei implícita ou explicitamente as formas cabíveis do meio.
Ouso até identificá-lo como a solução em si de certos casos, sem precisar ir a
diante. O meio também é um estado, um começo, um fim, uma conclusão e pode até
ser catártico, dadas as circunstâncias nas quais está aplicado. Esse meio me
pegou de forma ímpar mesmo. É aqui que vou ficar. Às vezes vou amá-lo e outras
até o abominarei. O seu uso é sempre avaliado e é aqui que ficarei: bem no
meio.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
A ausência de moderação voluntária e também o diagnóstico da carência de limites quaiquer tornam-se martírio para os seus praticantes. O drama melancólico e a euforia da felicidade planejada são, certamente, cóleras da condição humana. A tragédia de algumas pessoas é serem puramente racionais. Já outras só vivem sendo inteiramente emocionais, que é a tragédia destas.
As formas grandemente notórias de existência podem parecer bizarras ou
brilhantemente incríveis. A arte é para sujeito todos os conceitos mais
fiéis acerca dele embora não possa entender. A linearidade social trata
os sonhadores como esquizofrênicos. O medo sempre foi o mecanismo leal
para fundamentar a mentira. A verdade só deve ser válida sendo a veste
de maior importância do sujeito que a profere. A única forma de viver é
dizendo essa verdade.
Grande parcela da tristeza humana se dá pela condição de olhar demasiadamente para os lados e interagir na vida muito a sério. Existe uma inestimável diferença entre estabelecer criticidade e ser fechado para a vida. O intelecto confere a diferença de leitura, mas só um sujeito íntegro e com perspicácia tão profunda que quase infantil pode ser verdadeiramente feliz no mundo que temos.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Contando histórias
Entre absolutamente todas as coisas existentes, há zilhões de ligações umas com as outras e relações incomensuráveis com histórias incontáveis. Em verdade eu não as conheço, então as invento. Sou um grande mentiroso, mas, de invenções. Ora, se acabou de ser inventado, logo, não pode ser provado como mentira, pois necessário seria exatamente o contrário. Se o contrário não pode vir antes do "descontrário", bom, mas quem disse que não pode? O contrário veio primeiro pois para nascer o "des", precisou vir antes o que não era "des": que nesse caso é o contrário. Solucionado: sou apenas contador de histórias, sem fraudar o oculto, pois é inovador. Ou você acha que os integrantes mais diversos e distintos deste enorme universo não dialogavam entre si? Se não dialogavam, já se viram um dia, e pensaram coisas, então eu vim contar seus pensamentos. Sem fofocar.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Mazelas de Menina
Viver
era-lhe insípido, tentara empunhar a si mesma ao trágico fim que para então se
fazia unicamente solução. Inserida em um vestido finalizado na medida dos
joelhos, bege, de seda, elencado por pobres rendas periféricas e alguns buracos
indesejados; a boca apresentando-se com erosões labiais que o vento construira
nos últimos dias. Seios belos e livres sob a veste. Estava descalça pisando
sobre as pedras camonianas e o abismo à frente mantinha o convite. As pedras
que a acolheram em melhor época de sua vida, estudos e livros, faziam o mesmo
na pior. Havia sido rodeada de falastrões – mãe, companheiro, irmão. Eis a
semente: não ofereceu flores, apenas espinhos, com exceção do profundo
convidativo em que estava à mercê, escolhido por ela mesma. Ventava, ventava em
uma fúria calmante. Não havia frio, não climático, e a leve brisa apenas a
estimulava. A morte representava-lhe o alcácer. Rosália era de uma cor
celeste diária de abril em presença do sol. Coração puro e olhar perdido. Era
início da manhã e da concretização de um desejo que crescera: Rosária
matar-se-ia. Cansou das tantas vozes. Estava parada, em meio a sua confusão e
aparentemente decidida. Arrostava a situação em sua mente, as memórias
reboavam: suas leituras, tão abstratas e a única verdade. Queria se matar,
Rosália. Unhas descuidadas, o cabelo longo de um castanho acinzentado e os
olhos, estes sim, gritavam por sentido – qual se projetava naquele voo
planejado, construído. Como uma águia, rumo ao mar. Jogar-se-ia, decididamente.
As diversas literaturas pintalgavam seu pensamento inconcluso. Rosália desensarilhou
o que levaria no pulo: o melhor lido. E o resto ficaria nas pedras e ao mundo.
Berço
das dores, algo copioso.
Quis diferença, não teve, quis diferente.
Seu conhecimento basco, estudos de latim, literariedades longínquas.
Recordou-se do aroma do marido, enquanto agradou-se em acariciar suas junturas
com a língua, a mesma que sabia ainda francês. Seus olhos de anil traziam a
moléstia crucial: sintomas de antivida.
Estática, postada ao final do pisável e com o olhar suicida, tomaria sua
atitude. Poderia realizar inúmeras leituras. Com a mente em liça, Rosália fita
o mar sem fim.
Poder-me-ia dividir, fundamentalmente, em duas pessoas distintas (embora relacionadas): a literária e a realista. Ambas permeiam os pilares principais da minha existência. Tanto coexistem que é fiel alegar que há muito quê de realidade no meu sujeito ficcional e grande parcela de ficção no meu realismo vivencial. Duas entidades que delineiam o mesmo sujeito: a primeira a tecer meu espírito e a segunda a configurar minha alma.
Brevemente eu
Nada muito teatral mas que não seja banal: venho dizer-me um tanto. Rodrigo Ludwig, estudante de Letras, revisor de textos e escritor (ainda não publicado). Acredito na Arte e na Literatura e tecendo minha desenvoltura não sei ser fingidor. Tenho a dizer e vim fazer, sem medo qual sempre. Esclareça-se: de tudo quanto me envolvo, tão logo venho significar-me por meio de palavras, as mesmas que fazem ferir e vangloriar a vida e o mundo, e a sua mistura. A produzir sentido em quem ler-me-á, tenho a afirmar: da arte do dizer, jamais vou me desfazer. Apenas viver. Muito prazer.
Assinar:
Postagens (Atom)