Viver
era-lhe insípido, tentara empunhar a si mesma ao trágico fim que para então se
fazia unicamente solução. Inserida em um vestido finalizado na medida dos
joelhos, bege, de seda, elencado por pobres rendas periféricas e alguns buracos
indesejados; a boca apresentando-se com erosões labiais que o vento construira
nos últimos dias. Seios belos e livres sob a veste. Estava descalça pisando
sobre as pedras camonianas e o abismo à frente mantinha o convite. As pedras
que a acolheram em melhor época de sua vida, estudos e livros, faziam o mesmo
na pior. Havia sido rodeada de falastrões – mãe, companheiro, irmão. Eis a
semente: não ofereceu flores, apenas espinhos, com exceção do profundo
convidativo em que estava à mercê, escolhido por ela mesma. Ventava, ventava em
uma fúria calmante. Não havia frio, não climático, e a leve brisa apenas a
estimulava. A morte representava-lhe o alcácer. Rosália era de uma cor
celeste diária de abril em presença do sol. Coração puro e olhar perdido. Era
início da manhã e da concretização de um desejo que crescera: Rosária
matar-se-ia. Cansou das tantas vozes. Estava parada, em meio a sua confusão e
aparentemente decidida. Arrostava a situação em sua mente, as memórias
reboavam: suas leituras, tão abstratas e a única verdade. Queria se matar,
Rosália. Unhas descuidadas, o cabelo longo de um castanho acinzentado e os
olhos, estes sim, gritavam por sentido – qual se projetava naquele voo
planejado, construído. Como uma águia, rumo ao mar. Jogar-se-ia, decididamente.
As diversas literaturas pintalgavam seu pensamento inconcluso. Rosália desensarilhou
o que levaria no pulo: o melhor lido. E o resto ficaria nas pedras e ao mundo.
Berço
das dores, algo copioso.
Quis diferença, não teve, quis diferente.
Seu conhecimento basco, estudos de latim, literariedades longínquas.
Recordou-se do aroma do marido, enquanto agradou-se em acariciar suas junturas
com a língua, a mesma que sabia ainda francês. Seus olhos de anil traziam a
moléstia crucial: sintomas de antivida.
Estática, postada ao final do pisável e com o olhar suicida, tomaria sua
atitude. Poderia realizar inúmeras leituras. Com a mente em liça, Rosália fita
o mar sem fim.
Nossa, que lindo!! Parabéns!
ResponderExcluirEu sou seu fã, pessoinha.
Muito obrigado, dear Henrie!
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