sexta-feira, 13 de abril de 2012

Elias sem solidão


          ----- Deste amor que se assemelha à esquadria, pretendo eternamente fazer-nos em em verdades, às quais guardo-te como no alto dessa montanha, intacta aos falsários que pudendo te quiseram, mas, só eu a tenho – disse em tom de trem ameno.
            Elias fora chagásico, em uma época singular, na qual alimentavam-se olhares e sofria o coração. Alto, de expandidas medidas e sentimento puro – deixava-se transparecer ainda mais agora em pico –, cujo faz pospor até o momento. Olhos de carvão refletindo o serviço que se propôs a realizar com grande carinho – se fora desse quadro quase condicional não sabia Elias caber em que quer que seja diferente –, duas jabuticabas a avistar Benícia na turbulência de um dia setembrino, em meio a bocas remoendo almoço comemorativo quando soube precatar e os pães serviram-lhe de pretexto ao futuro: história em que encontrava-se agora em tamanha altitude. Não desdenhava a presente ideia de manter-se ali e assim por muito. Cabelos pretos e corpo forte lembravam um antigo filme que certa vez vira a moça. A pele colorida pelo sol fazia de Elias o mais desejado inconfesso. Com dissabor às estripulias de mulher, jamais retrucara qualquer olhar a alguma figura feminina que não fosse Benícia – ainda no passado de algo que esteja a ser tratado agora. Impossível era ter erro, inacreditável, diziam, não fosse perfeito.
            ----- Só a ti, serei e estarei eternamente – desenhando verbalmente o que não é preciso citar. Há seis meses experimentava a mais intensa e sublime sensação que passara por sua mente nem em sonho ou nos, atualmente, longos dias de carvoeiro.
            Sobre a mesa postada a flor do dia, havia Elias em casa chegado. Fitava Benícia como se primeira vez fosse, maravilhando-se igualmente o exímio apaixonado. Do que não se podia compendiar, expressava-se, Elias, das mais variadas formas não planejadas, mostrando aos campos longínquos ou lençóis e travesseiros que, sobretudo, era ela sua inalterável inspiração. De simples passividade, grande e útil, a compassividade do ser de mãos vistosas com dedos grossos vinha sempre a crescer, tendo em tudo isso seu combustível que mesmo as fumaças libertas viravam flores por Elias. Drapejava as roupas ali, quase em êxtase novamente estava em companhia dela.
            ----- Posso dizer-me em langor, certa de que nunca cessarás me surpreender. Em tão alto momento, aqui e fora, mal sei murmurar que me sinto tão feliz e nem se aproxima isso a quando estou na botoeira que tanto me afeiçoa. Amo-te, Elias, do mais simétrico amor, o mesmo descrito por palavras suas em momento anterior.
Pois, sem ensaio, bem conseguia condensar-se com o que vinha de Elias. Suas louras madeixas esvoaçavam-se aos movimentos que o vento dançava. Em frente ao homem, enlaçava-se apoiando a cabeça em seu ombro, seus olhos insinuavam conspiração em fazer combinar com os dele.
 ----- Somos a planta nascida da matéria destinada a ser cinza, dizia ela, tecendo entre eles o princípio de fazer-se um palavrão dito qualquer que não beirasse carinho espontâneo e vivo entre eles. Dona de casa, fazia o melhor esperando com agulha, linho e outros o momento de Benício estar em casa. O olhar lançado há meio ano fora unitivo. Era rosada, contrariando os olhos e aparentando o corpo e tudo além ser tramado para o resultado que naturalmente era. O Quarto-de-milha à espera fazia mensão de contagiar-se com o que via, imaginava a moça. Fosse o bicho um coleante, ao invés de tirá-los ao paraíso viria a participar dele, integrar-se à beleza do saudoso par.
            Seus dias na vila eram assim, nada havia de mais completo. Em harmonia e bondade, Benícia e Elias subiam além. O grisu exalado antes do banho por Elias dissipava-se sob a água quente e na inocência vinha Benícia, compartilhando cada gesto e fazendo desse simples ato um espetáculo musical.
            ----- Logo adiante me vejo em esbórnia de corpo todo se tocado por você qualquer tempo a mais, decorria-se Elias ao que nada recordava um discurseiro. Utilizar-se de amáveis dizeres envoltava-a em lindo manto amoroso.
            A jovialidade de ambos elaborada com suas vivacidades não se estragou mesmo sendo dada a resposta de quem cuidadosamente analisou e havia aprendido para tal. Nada empírico, sem estudo de ciência. Todavia, com sabedoria de gerações, o tão estimado médico de formação tão autossuficiente lançou as palavras silenciadas na memória de Benícia.
            ----- Digo  hoje tal e qual, com total desprendimento: amo-te, Elias, e com você estarei o restante de meu viver.
Apresentava-se em segredo, composta de amor e zelo, a alma amante em pura mocidade, com incertezas do posterior, mas acalmada pelo amor recebido, carregando a terrível enfermidade percebida.
 

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