sexta-feira, 27 de abril de 2012

Amor literário

          A dicotomia dos interesses parecia deixar o menino sempre a movimentar sua pupila para um lado e para o oposto, assim como fazia sua cabeça nos momentos de não solução. Embora satisfeito – pelo interesse alheio apresentado. Enquanto pensava cuidadosamente nas suas sete irmãs e alguns irmãos, acerca de situações corriqueiras, misturara-se sua linha do pensamento a uma outra esfera de raciocínio: as pessoas adoravam os dizeres dele e isso o deixava reflexivo. Reflexivo porque, então, o complemento era difuso. Deveras difuso: alegavam amar as palavras que saiam de seu coração. O menino falava de amor mas não se confortava com o fato de ilustrarem seu discurso literário indissociavelmente de sua existência emocional. O sentido que causavam tais palavras não modificava uma grande verdade individualmente convencionada: em grande parte, eram apenas palavras. O acontecimento era pensado, racional, não amava e nem era amado. Só versava. Suas irmãs um tanto o compreendiam, talvez pela observância por uma lente próxima promovida pela intimidade e liberdade de acesso sem censura ao que ele expunha. Mas não queria a junção de seus versos com seu coração que, mesmo piamente de uma atmosfera humana e bem-humanizada, fazia por bombear sangue para o seu organismo – e nisso resumia-se toda a importância de tal coração. Para ele era bastante claro: falava tanto de amor por ser algo que ele essencialmente não sentia.

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