No
mercado João chegou otimista, olhando para o chão e contendo a boca
para não sorrir demais, visto que perderia seu foco das compras,
dar-se-ia por confuso e toda a oratória ensaiada aos tremores e
pausas em casa seria em vão. Começou já na quarta-feira a pensar
na prosa mercantil: queria comprar um pedaço pequeno de um frango
qualquer, e duas velas grossas verdes para a lápide de sua vózinha. Na
sexta-feira o homem já quase falava corrente; passasse moça na rua
matutaria que João Augusto havia-se mudado. Mas não, só havia
mudado a fala que nem fala era, dado teor de ensaio. Levantou cedo no
sábado e chegou no mercadinho, pois. Lugar pequeno, poucas pessoas e
muito contexto: "Pedaço de frango qualquer, João? Como é?".
E eis que a missa ligeira do João-enrolado foi-se mercado afora. E
pensar que pensou João em adjetivar o frango de "qualquer"
para parecer corriqueirice da vida dele; queria fingir, João, que ia
sempre ao mercado e proseava com todo o povo. Foi-se para casa, com
uma mão fora do bolso e a cara toda para dentro, não comeu frango e
tampouco codorna, vela não foi acesa e a reza não foi proferida.
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