Dia destes decidira caminhar, muito
vagarosamente, pelo vilarejo. Afazeres aqui e acolá mas
desimportantes se a vontade era no nada ficar. Um nada bastante bonito, é verdade. Rosária olhava o céu,
fitava as árvores e via a si mesma. Assim era Rosária. “Lá vai a
preguiçosa bater perna”, pensava sua vizinha, “tem mais o que
faz não?”, irava a indignada sempre ocupada. “Ô, que ocupada”,
diria Rosária sobre a vizinha, mas não agora que o intento era
caminhar nos pensamentos - ou não pensamentos. A verdade é que Rosária tinha noção e
muita de tudo o que tinha que fazer e das coisas da vida, então
saíra naquela tarde ensolarada para descobrir um pouco mais de
tudo. Daqui um pouco avistou no chão uma folhinha bonita, tomou e
mãos, admirou, pouco pensou. Rosária caminhava qual uma garça
lenta e satisfeita com o peixe que comeu: comeria mais quando
necessário, mas por ora apenas queria observar. E de suas
observâncias é que a catarse acontecia: andava consigo, sozinha,
com Deus e Nossa Senhora; essa era a vida de Rosária. “Falta é
vergonha na cara dessa safada”, prosseguia a vizinha no seu ritual
de desmerecimento, “uma baita duma preguiçosa, isso sim!” E
Rosária que de nada sabia mas que de outro muito sabia seguiu sua caminhada, sem
tempo nem racionamento, depois voltou pra casa e a vida continuou.
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